Um pouco de Divina Comédia

Um pouco de Divina Comédia

Vinha eu

Pelo caminho da longa

Estrada da vida

Com minhas pernas cansadas

Quando aparece a montanha

A pedra no meio do meu caminho

Nela me embrenho

Sem saber bem

Por onde ir e vou

Passo por uma caverna

E vou seguindo

Por onde andei

Não vi ninguém

E estava eu agora

Andando pelo vale da morte

Andava eu só

Pelo vale da morte

Com a morte

No meu calcanhar

Não conseguia correr

Para a despistar

Chegando

Ao rio Caronte corri

Até a ponte

E na ponte

Corri mais

Nem o barqueiro

Creonte

Conseguiu me pegar

Musa das musas

Encapuzadas

Sua foice

Não vale nada

Se minha garganta

Marcada

Não conseguir

Alcançar

Deixa-me seguir

Porque ainda

Não é hora

De você me degolar

Meu sangue

Nesta terra podre

Não há de correr

Nem escorrer

Pra seu deleite

Morte respeite

A ordem superior

Que diz:-

Todo condenado tem

Direito a um último

Pedido

E o meu ainda é viver

Afaste-se

E deixe-me passar

Para os seus braços

Um dia hei de voltar

Mas, só quando.

O que manda

Mandar

ABittar

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