A PALAVRA
A PALAVRA
Seja escrita ou falada, seja rimada ou cantada
a palavra é milagrosa
tão milagrosa que a gente a manipula e a sente
como arma poderosa
Ela é desprezo e amor, estrume, pólen e flor
estrela, lama e chão
pacifismo, violência, pornografia, inocência
praga e também oração
É perfídia, honradez, abnegação, mesquinhez
raiva, beijo e ciúme
também é água da fonte, maré, abismo e ponte
degelo, paixão e lume
Por vezes é alimento, é sol, chuva, fermento
que sustenta e aduba
por outras é sofrimento, luxúria, vício, tormento
e açoite que derruba
Com ela o mundo se espanta por ser satânica e santa
bálsamo e droga infecta
guilhotina e perdão, liberdade e prisão
vómito de boca abjecta
Pode ser batalha ou trégua conforme a bitola e régua
do espelho da consciência
também é rosa e espinho, cardo, jasmim e carinho
escravidão, independência
Ela é freira, meretriz, pântano, pomar, raiz
pureza e poluição
é profana e sagrada, afago e chicotada
desavença e comunhão
Mas para mim é um fogo e um mar onde me afogo
eternidade e momento
êxtase, estupefacção, poema, contemplação
bailado do pensamento
E para todo o Poeta
a palavra é a dilecta, eterna amante fatal
e o Poeta quando parte só deixa como estandarte
a sua amante imortal!
(In "Ecos do Infinito")