A PALAVRA

A PALAVRA

Seja escrita ou falada, seja rimada ou cantada

a palavra é milagrosa

tão milagrosa que a gente a manipula e a sente

como arma poderosa

Ela é desprezo e amor, estrume, pólen e flor

estrela, lama e chão

pacifismo, violência, pornografia, inocência

praga e também oração

É perfídia, honradez, abnegação, mesquinhez

raiva, beijo e ciúme

também é água da fonte, maré, abismo e ponte

degelo, paixão e lume

Por vezes é alimento, é sol, chuva, fermento

que sustenta e aduba

por outras é sofrimento, luxúria, vício, tormento

e açoite que derruba

Com ela o mundo se espanta por ser satânica e santa

bálsamo e droga infecta

guilhotina e perdão, liberdade e prisão

vómito de boca abjecta

Pode ser batalha ou trégua conforme a bitola e régua

do espelho da consciência

também é rosa e espinho, cardo, jasmim e carinho

escravidão, independência

Ela é freira, meretriz, pântano, pomar, raiz

pureza e poluição

é profana e sagrada, afago e chicotada

desavença e comunhão

Mas para mim é um fogo e um mar onde me afogo

eternidade e momento

êxtase, estupefacção, poema, contemplação

bailado do pensamento

E para todo o Poeta

a palavra é a dilecta, eterna amante fatal

e o Poeta quando parte só deixa como estandarte

a sua amante imortal!

(In "Ecos do Infinito")

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 23/04/2005
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