LEVO NO INTERIOR SÉCULOS
levo no interior séculos
de idades passadas que tornam
a florescer-me nos ternos lábios,
como musgos a coroarem cocurutos
de antigas torres, em cada suspiro
murmúrios do mar de vozes longas
a relatarem os contos incontáveis
daquelas e daqueles que na morte
ainda são, e serão, parte viva
deste meu corpo espreguiçado
veias que percorrem demorados caminhos
de trabalhos, de comunidades
de poemas, de amores intemporais
a se misturarem em sensual abraço
de tímidas pálpebras borboletantes