[Passeio dos Pensamentos]
Ah, quanta claridade, quanta!
Hoje pela manhã, ao som de Bach,
eu despertei de mais uma noite
nesta minha vida de tantas noites.
Tive muitas ideias
ainda no banho,
fiz força mental
de não perdê-las,
ao léu dos pensamentos.
Depois, enquanto eu amarrava
o cordão do meu sapato blue,
os poemas intensos que surgiriam
daquelas ricas ideias originais
[de certo, nunca foram pensadas!]
esvaeceram-se no ar estático
do meu quarto empoeirado,
e cheirando a quê... a solidão,
pois ali só há o meu cheiro.
O sol da manhã já ia alto
quando os meus pensamentos,
abstraídos daquelas ideias,
saíram a passeio pelo mundo afora —
desceram pelo elevador,
deram a partida no carro,
e, janelas dos olhos abertas,
lá vão eles pelas ruas,
seguindo o arco oeste do sol,
pelas estradas outonais...
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[Penas do Desterro, 20 de setembro de 2006]