O ÚLTIMO DIA DE TRABALHO DO PÔR-DO-SOL NO MAR

O ÚLTIMO DIA DE TRABALHO

DO PÔR-DO-SOL NO MAR

(OU DO PENOSO OFÍCIO DE SONHAR)

Havia o mar na sombra do horizonte

havia o pôr-do-sol na água sombria

havia o porto e a encosta do mirante

e os corpos dos amantes na mortalha

da água fria...

Havia as naus no dorso dos destinos

e a brisa que saudava a volta ao cais

com os corais dos cantos peregrinos

das harpas e violinos dos noturnos

vendavais...

Havia como um repousar do mundo

nos profundos jardins das enseadas

havia vasta ausência no mais fundo

das almas insepultas que sonhavam

acordadas...

Havia o céu de estrelas rutilantes

e havia o mar de ninfas reluzentes

e a corrente de espumas flutuantes

das errantes escunas entre luzes

fluorescentes...

Agora onde era o mar há o oceano

o poente sem sonhos naufragados...

Jaz agora no cais em ritmado sono

o pertencido amor dos navegantes

afogados...

Ainda há aves mortas no convés

e há naves ancoradas sem destino

o declínio de auroras dispersadas

pelas marés da saudade em pleno

desatino...

Ficou uma canção de marinheiro

e um canto rústico de pescadores

o pôr-do-sol no doloroso encanto

de renascer, sonhar, depois morrer

sem dores...

A. Estebanez

Afonso Estebanez
Enviado por Afonso Estebanez em 02/11/2008
Código do texto: T1260990
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