Pólvora...

A chuva caia

lá fora.

E eu liguei o ventilador.

Queria morrer

de frio,

ou espantar aquele cheiro

de cigarro.

O cinzeiro

já estuporado,

filtro amarelo

e filtro branco.

Despejei na lata de lixo

tenazmente.

Contando os fragmentos

do fim de semana.

E a chuva

que não parava.

O ápice de gotas densas

a despencar sobre nós.

A lavar a rua do lavradio

e a encornar cada frase

do Profeta gentileza,

sutilmente estigmatizadas,

na minha cabeça.

E a poesia companheira

ia surgindo.

Da solidão talvez,

ou da falta de poder ser alguém

em meio a tanta água.

A poesia ruborizando

as entranhas,

desse dia azul.

Tingindo cada homem

de pequenos

pedaços de cinza surreal.

Afunilando nossas dobras

de acasos e contratempos.

Remontando os encontros

do casal de namorados.

E o transitar permanente

em buscar sempre

a fé, alheia dos olhares

compenetrados na chuva.

Provando que existe

e não tem explicação.

N Lago
Enviado por N Lago em 02/11/2008
Código do texto: T1260903
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