Pólvora...
A chuva caia
lá fora.
E eu liguei o ventilador.
Queria morrer
de frio,
ou espantar aquele cheiro
de cigarro.
O cinzeiro
já estuporado,
filtro amarelo
e filtro branco.
Despejei na lata de lixo
tenazmente.
Contando os fragmentos
do fim de semana.
E a chuva
que não parava.
O ápice de gotas densas
a despencar sobre nós.
A lavar a rua do lavradio
e a encornar cada frase
do Profeta gentileza,
sutilmente estigmatizadas,
na minha cabeça.
E a poesia companheira
ia surgindo.
Da solidão talvez,
ou da falta de poder ser alguém
em meio a tanta água.
A poesia ruborizando
as entranhas,
desse dia azul.
Tingindo cada homem
de pequenos
pedaços de cinza surreal.
Afunilando nossas dobras
de acasos e contratempos.
Remontando os encontros
do casal de namorados.
E o transitar permanente
em buscar sempre
a fé, alheia dos olhares
compenetrados na chuva.
Provando que existe
e não tem explicação.