A DOR
Dor, mãe da sabedoria
Instrutora da paciência
Sofrimento é teu esposo
Ajudador em total obediência
Do teu ventre, ó mãe
Brota tão formosas sementes
Que a principio, como tu,
São como a morte
E ao final se mimetizam
Como frutos excelentes
Teu gerar primeiro mata
E teu esposo qual navalha corta forte
Rompe a casca e mostra a carne em sangue vivo
E no sangue derramado mostra a morte
Tuas palavras não há grafia que consiga
Por mais perfeita teu sentimento perceber
Quem te conhece mesmo que entenda o teu falar
Ainda assim não pode o mesmo descrever
Só com os teus frutos
Por longos anos incubados
O abrir da boca ou só os gestos
Expõe quem és
Ninguém consegue ter os teus filhos
Sem possuir-te
Os que te viram os possuem por ser fiéis
Ó incompreendida mãe de seres moribundos
Muitos são os remédios que te perseguem
Quando estás na superfície da carne
Alguns te matam
Mas se alcanças a alma
Não mais conseguem
Se te aprofundas ao mais íntimo do espírito
Tocar no homem em sua própria eternidade
E ali qual codorniz tu pairas e geras
Chegando ao berço de tua própria maternidade
Quando feriste o profundo do espírito
Sacaste forças de onde só havia fraqueza
Sabedoria e paciência
Assim brotaram
Que manifestam teu dulçor
Tua beleza
(Cádiz, Espanha 31.8.2000)