AÍDA
iguais,
os pores-do-sol dos fins de tarde...
me cheiram a cantiga antiga, a amiga antiga,
a dias amanhecidos
e a ti,
que me chega com o mesmo cheiro igual dos fins de tarde!
é pôr-do-sol:
cedo demais para acordar os bêbados, as mães d’água,
os homens que ainda nem conseguem despertar nos vãos da noite...
[ausentar-me-ei da tarde;
e tu, do sol]
é cedo demais para acordar os marinheirinhos de pouco navegar,
as rumas de erês,
as crianças que deram o ar da graça de ir - e seguir - passo à escola
[ausentar-me-ei da tarde;
e tu, do sol]
por entre meus dedos, escapará teu cheiro
de cantiga antiga, de amiga antiga, de dias amanhecidos,
enquanto em nós adultecer a vontade de crescermos, qual a noite
[ausentar-me-ei da tarde;
e tu, do sol]
devasso teu cheiro de noite, e me aproveito de todo teu cheiro de noite!
[ausentar-me-ei da tarde;
e tu, do sol]
jamais voltarei a beijar Aída apenas no rosto;
iguais,
apenas os pores-do-sol dos fins de tarde!