À Morte
Se a Morte me chega hoje,
o que digo é que não vou.
Se a Morte me chega ontem,
o que digo é que não sou.
E se Ela vem amanhã,
por favor, digam que não estou.
Inventem que viajei para a Europa,
que fui sem previsão de volta.
Contem que não sou mais o mesmo,
que por Sua vinda não mais aguardo.
Sim, que Ela saiba
do novo eu
que nem eu sei dizer de onde veio.
Se é porque começou a amar a vida,
ou por medo de morrer.
Simplesmente esclareçam-Na de tudo,
e que Ela não me procure!
Ó, Amiga Inevitável,
por tanto tempo cantei-Te,
como um romântico boêmio
em madrugadas serenas.
Não tenhas ódio por mim.
Deixeis teu escravo trair-Te um tanto,
a sentir este amor tão pulsante
da menina de cabelos encaracolados.
Sabes Tu, Amiga,
que em Ti, um dia,
estarei.
Então,
não Te preocupes com o pecado
ou a falta de zelo.
Ainda és o que sou,
seja no diálogo quebrado,
ou na narrativa “Machadiana.”
Ainda fazes sangrar veias alucinadas,
lacrimejando choros tão secos.
Ainda és meu destino,
meu limite
e a razão do meu existir.