A DERRADEIRA DAS ÚLTIMAS NOITES DE UM POETA MORIBUNDO

Os dias são trevas

E as trevas dias

A luz ferve

Se é opaca

E o mundo se ilumina

Quando esta

Se torna

Demasiado clara

É o início d’

A derradeira das últimas noites de um poeta moribundo

Trata carinhosamente

As letras

Que aprendeu a ler

E a trocar

De mil e um significados

Trata-as por um simples

“Tu…”

Quando está demasiado ébrio

Ou pura e simplesmente

Pelas Estrelas

Ou por Ela

A de sempre apaixonado

Porque os amores

Se repetem

Sempre na mesma cadência

Perante os seus olhos

Iluminados

Pelo chamamento

Que roga

Por todo o seu ser

Que lhe implica

Para que se erga

Das cinzas dos livros

Que lhe ensinaram a escrever e depois a ver arder

Numa festa orgiástica

De mil e demasiados sentidos

Da profusão

Desses sentires

Que lhe tapam a visão

Mas pelo olfacto

Lhe dizem para onde ir

Rumo à terra prometida

Dos poetas sem rumo

Ou com demasiado destinos

Para onde se dirigir

Só está, estão bem

Quando sentem que vão partir

Rumo a “Quê?”

Eis a pergunta vital

À qual nunca saberei

Dar melhor resposta

Pois também eu vivo as mesmas noites

Que essa personagem

Talvez demasiado obscura

Faces iguais

Cada uma do outro lado do espelho

Que se tocarão

Quando este se partir

E vier a tal cegueira

Clarividente

Da brancura

Onde por fim a noite

Não será mais do que isso

E terá um fim

Que será

O mais glorioso começo

E quando Ele o descobrir

Dará por finda a sua demanda

A sua insana procura…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 28/10/2008
Código do texto: T1252769
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