O TeAtRo DA VIDA
O TeAtRo DA VIDA
Eu abri meus olhos e vi ao meu redor,
Eu vi uma forte luz que brilhava
Luz esclarecedora que submetia à prova
Todos os que me rodeavam
A dor e o sofrimento
Foram para mim como uma tocha celestial
Para mostrar-me quem estava por detrás
Sim, por detrás das máscaras e fantasias
Daqueles personagens que representavam comigo
Neste grande TeAtRo da vida
Muitas surpresas eu tive
Umas agradáveis, outras não
Mas todas elas me ensinaram
E ainda hoje me seguem ensinando
O meu verdadeiro papel nesta obra
E a luz também me mostrou
O verdadeiro papel de cada um deles
Os meus companheiros de "trabalho" no TeAtRo.
Nada é casual!
A casualidade é somente uma expressão
Da nossa profunda ignorância da verdade e da origem das coisas
Quando acabar este ato
Nos bastidores agitados dos camarins
Os figurantes trocarão suas roupas
Muitos mudarão suas máscaras
Outros, quiçá, somente carregarão suas maquiagens
E, ao soar da campainha, as cortinas se abrirão novamente
E estes personagens travestidos não serão reconhecidos.
Eu, entretanto, por ter trabalhado com eles em toda a obra,
E conhecido de perto o submundo do palco
Embora não sabendo de memória quem são os personagens
Mesmo que não reconheça suas figuras à primeira vista,
Ainda assim, pelo cheiro, pelo odor que exalam
Pelo falar, pelo andar, ou simplesmente por meu instinto natural
Poderei, sem vacilar, dizer que se trata dos mesmos artistas,
Agora amparados por outras máscaras e fantasias.
Eles, como sempre, tentarão aparentar ao grande público
Que a obra mudou
Eu, entretanto, no meu íntimo,
Saberei que, embora a aparência tenha mudado,
A essência do TeAtRo segue a mesma e,
Com os olhos fitos para cima esperarei
Até que se fechem as cortinas de novo
Para assim contemplar por detrás delas
O que verdadeiramente se esconde.
D. Marques
(Barcelona, 12.12.2000)