A pipa
A pipa
Do alto da laje mais alta do morro
O neguinho magrelo
De pés descalços
E short frouxo
Empina a pipa
Como se empinasse
A própria vida.
Dança com ela um funk
Entre fios de alta tensão.
Tensão...
Só a da dona Creuza
“Desce dessa laje moleque!”
“Vem comê!”
“Cualé?!”
O baile ainda não acabou.
Sorriso maior que o rosto,
Perninhas finas e cinzentas de poeira.
O short caindo
Mostra o cofrinho
Puxa o danado
Não pára o “dibico”
“Ah... muleque!!!”
A pipa leva aos céus os seus sonhos
O vento os sopra aos ouvidos de Deus
Se não tiver muito ocupado
Talvez ouça
O que o neguinho lançou ao azul.
Em cada fitilho da “rabiola” colorida
Pontas de esperança de não sabe o quê.
Quem sabe o neguinho só ria por rir...
Quem sabe seja só do poeta o devaneio...
E que na pipa não haja sonhos
Por isso cortada
Agora “avoada”
Estraçalhou-se nas mãos de outros
Chora neguinho.
Adriana Kairos