A pipa

A pipa

Do alto da laje mais alta do morro

O neguinho magrelo

De pés descalços

E short frouxo

Empina a pipa

Como se empinasse

A própria vida.

Dança com ela um funk

Entre fios de alta tensão.

Tensão...

Só a da dona Creuza

“Desce dessa laje moleque!”

“Vem comê!”

“Cualé?!”

O baile ainda não acabou.

Sorriso maior que o rosto,

Perninhas finas e cinzentas de poeira.

O short caindo

Mostra o cofrinho

Puxa o danado

Não pára o “dibico”

“Ah... muleque!!!”

A pipa leva aos céus os seus sonhos

O vento os sopra aos ouvidos de Deus

Se não tiver muito ocupado

Talvez ouça

O que o neguinho lançou ao azul.

Em cada fitilho da “rabiola” colorida

Pontas de esperança de não sabe o quê.

Quem sabe o neguinho só ria por rir...

Quem sabe seja só do poeta o devaneio...

E que na pipa não haja sonhos

Por isso cortada

Agora “avoada”

Estraçalhou-se nas mãos de outros

Chora neguinho.

Adriana Kairos

Adriana Kairos
Enviado por Adriana Kairos em 28/10/2008
Código do texto: T1251745
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