Todo dia, fim da linha.
É como o desenrolar das cortinas...
Respeitável público pagão,
Falemos agora de 'Luz!,
Câmera! e Transação'!
É só amor, ensaio e cena,
A cada ato enceno a indiferença,
Do teu silêncio, minha liberdade.
Das tuas palavras surge apenas
Calamidade.
São de poesia, ilusão e sensação
Que fomentamos o jogo,
O maldito jogo da emoção.
Da falcatrua, da luta e da decepção
- É o jogo da vida, da ferida,
Da nostalgia e da solidão.
É um jogo de farsa, de decadência,
De vender a vida, de ganha-pão.
E em que instância se conjuga a vida
E se aprimora a linha
Que distancia a razão,
Frente ao disparate - ensurdecido,
Vilão enlouquecido –
Da inútil emoção?
Emoção!, a platéia vibra
Com o jogo das sensações
Bate palmas, se levanta,
Grita e se desmancha
Enquanto os atores saem de cena
E as cortinas se alcançam.
As máscaras caem,
A maquiagem se esvairece,
A armação ainda reina,
O sorriso é que desaparece.
O cenário some,
Mesmo com a contínua prece,
As pessoas se agitam,
O aplauso é que emudece.
Todo dia - hipocrisia, afonia.
Todo dia - harmonia, claustrofobia.
Todo dia, poesia,
Fim da linha.