DE ONDE BROTA A POESIA
(A poesia, a verdadeira poesia, não é um amontoado de rimas e métricas. A poesia, a verdadeira poesia, é para o poeta como um filho é para sua mãe; Quem o vê brincando e sorrindo não pode imaginar a dor que ele exigiu de sua mãe para poder nascer. A poesia, assim como o poeta, muitas vezes também é filha da dor.)
A poesia, o poeta,
Frutos da sombra mais que da luz
Águas sombrias de corredores profundos dos mares
Manufaturadores de dejetos de máscaras
Dos seres que se escondem da luz
A poesia, filha do poeta
Urtiga que queima a alma
E cura o coração
Quando o poeta saiu do jardim de rosas perfumadas
Quando deixou de cultivar as pétalas do amor
E saciou-se de comprar no mercado das futilidades humanas
Então ele viu de perto
E bebeu de um só gole
As abundantes águas da angústia
E os mares salgados da inveja, em turbilhões.
Os mares da falsidade
A hostilidade das máscaras de seres fantasiados
Foram como monstros
Saídos todos de suas cavernas milenares
A perseguir crianças indefesas
Correu de mão em mão
E como mercadoria barata,
De pouquíssimo valor,
Foi desvalorizado mais que moedas de barro
A poesia exala o perfume
De profunda e densa escuridão
Filha do poeta,
Filha da noite,
Filha do ventre inchado
E do parto sem anestesia
Trabalho de parto tão lento,
Dor incessante que mata.
Cádiz, Espanha - 15.03.00