Tua mágoa era comigo, mulher.
Foste conhecer tuas netas, mulher?
Estiveste tão perto
que poderías, por certo
ter feito o que tua neta mais quer.
Quantos anos passaram?
Quantas chances tiveste?
Ainda lembro os olhinhos brilhantes
daquelas meninas esperando por ti
lembro das lágrimas incessantes
a cada desilusão da tua ausência.
E agora estiveste alí,
a duas quadras de vê-las, era só tu querer
e de novo deixou-as sofrer
a ausência da avó?
Tua mágoa era comigo,
que nunca fora bom filho, amigo.
Mas erraste ao fazer sofrer
meu maior bem querer,
duas meninas que hoje cresceram
e jamais esqueceram
de rezar por te ver.
E poder conhecer
a mulher que eu tento esquecer.
Hoje minhas filhas cresceram
estão adultas, adolescentes
mas ainda carentes
do carinho da avó
e o beijo guardado
ficou emaranhado
numa lágrima que cai,
no soluço de um choro,
e suas palavras, em coro:
Não foi nada, papai.
Muitos que leem o que escrevo,
acreditam que me atrevo
a criar a tristeza.
Mas tenham a certeza
que escrevo o reflexo
de um espelho quebrado,
que reflete o passado
que eu não soube viver.
E escrever sobre isso
renova o compromisso
de nunca esquecer
de dar a minhas filhas
a família
que eu não pude ter.