PARABÓLICO/TAMBOR/COM POUCO/CANÇÃO MUITO LOUCA

PARABÓLICO

Olhar de poeta

tem anzol.

Qual o de camaleão

é parabólico

capta imagens

via suor

satélite

alquimia.

Quando chora

ou ri

irrompem lágrimas

de sal

purpurina

e maravilha:

Que podem

lavar algumas pragas

dos homens

e recolhê-las

numa bilha.

TAMBOR

Qualquer tambor

tocado com sotaque

toque africano

faz todo mundo

dançar multidões

passam dançando

no terreiro

discoteca

sambódromo

salão

no morro

avenida

praia

barracão

até Saci

o pererê

vem da mata

saltita pela boate

dançando fumando

seu cachimbo

brasa escarlate.

COM POUCO

Vim da roça

De madrugada

Buscar tratamento

Na cidade.

Meu almoço?

Uma coxinha

Um sonho

Ou um pastel oco:

Barriga de pobre

Tá acostumada

Com pouco.

CANÇÃO MUITO LOUCA

Minha canção é pra tocar

no pente

e nas costelas de um faquir:

Ela bem que poderia

ser assinada

pelo grupo Uakti.

É desfigurada,

eu diria atonal,

Schoenberg no Brasil

compondo pro carnaval.

É incolor,

mas traz uma aquarela

no avesso,

e tem no intermezzo sons

de metal e areia,

que sacode roseira,

seduz sereia.

Salta do sertão da garganta

pra curar os ouvidos

da moça mouca:

Então, salve

minha canção

muito louca!

CAIO DUARTE
Enviado por CAIO DUARTE em 23/10/2008
Código do texto: T1244394