PARABÓLICO/TAMBOR/COM POUCO/CANÇÃO MUITO LOUCA
PARABÓLICO
Olhar de poeta
tem anzol.
Qual o de camaleão
é parabólico
capta imagens
via suor
satélite
alquimia.
Quando chora
ou ri
irrompem lágrimas
de sal
purpurina
e maravilha:
Que podem
lavar algumas pragas
dos homens
e recolhê-las
numa bilha.
TAMBOR
Qualquer tambor
tocado com sotaque
toque africano
faz todo mundo
dançar multidões
passam dançando
no terreiro
discoteca
sambódromo
salão
no morro
avenida
praia
barracão
até Saci
o pererê
vem da mata
saltita pela boate
dançando fumando
seu cachimbo
brasa escarlate.
COM POUCO
Vim da roça
De madrugada
Buscar tratamento
Na cidade.
Meu almoço?
Uma coxinha
Um sonho
Ou um pastel oco:
Barriga de pobre
Tá acostumada
Com pouco.
CANÇÃO MUITO LOUCA
Minha canção é pra tocar
no pente
e nas costelas de um faquir:
Ela bem que poderia
ser assinada
pelo grupo Uakti.
É desfigurada,
eu diria atonal,
Schoenberg no Brasil
compondo pro carnaval.
É incolor,
mas traz uma aquarela
no avesso,
e tem no intermezzo sons
de metal e areia,
que sacode roseira,
seduz sereia.
Salta do sertão da garganta
pra curar os ouvidos
da moça mouca:
Então, salve
minha canção
muito louca!