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PALAVRAS

Palavras são brinquedos,

Peças de um lego.

Que saltam da boca do povo,

Que pulam das páginas

Do dicionário.

O poeta,

Com o sal do suor

E o sol do imaginário,

Rapta-lhes o fulgor.

O DIA

Sábado

é o dia

do escancaro-lembras

do poema de Vinícius

de Moraes?-

Encaro

roda de samba,

falo

um dialeto de Luanda,

escrevo poemas

em folhas de bananeira.

E qual Manuel Bandeira,

vou me embora pra pasárgada,

porque lá, também, sou amigo

do rei.

OUTRORA (Para Narciso Durães)

Toda metrópole

Outrora foi uma vila

Uma aldeia.

Com uma fieira de cabanas

Iluminadas por tochas bruxuleantes

E alguém sozinho a cismar

No silêncio noturno entrecortado

Por balidos de ovelhas tenras

E uma saraivada de uivos

de cães viúvos.

ATÉ O FUTURO

Que o meu encanto

não se acabe

à meia-noite,

como o de cinderela:

que dure até o futuro

e eu, fruto maduro,

me dissolva

nos lábios dela.

SORRISO MAROTO

O guarda noturno

Na solidão

Ouve rádio e dialoga

Com um cigarro aceso.

De repente

Soa um som esquisito:

Não é nada

Apenas o salto premeditado

De um gato maldito.

O guarda volta

pra guarita

Observa a rua.

Por um momento

Ouve um sorriso maroto

Que pelo espaço flutua:

É um cometa que passa

Fazendo cócegas

Nas nádegas da lua.

FLORES (Para João C. De M. Neto)

Flores de papel

são feitas de tinta e papel

por mãos artesãs que fabricam

outra realidade.

Não são como flores

naturais no jardim de uma

casa exalando perfume

faíscas de eletricidade.

Ambas porém são luzeiros

no céu do cérebro

do poeta atento:

com suas realidades

distintas que são tintas

para o seu diário invento.

CAIO DUARTE
Enviado por CAIO DUARTE em 23/10/2008
Reeditado em 03/11/2008
Código do texto: T1244223