A CEIA SEM CARDEAIS
Minha casa tem duas vistas, para o leste
e para o oeste:
às vezes chove a oeste e o sol o leste reveste;
às vezes chove no leste e no oeste o sol investe,
pois a casa tem duas vistas, para oeste
e para o leste.
Minha casa tem paredes: para o sul
é mais agreste:
para o sul é o cemitério,
para as vítimas da peste,
que muitos chamam de vida o final tão inconteste,
que é o cemitério da vida, quando a vida se desveste.
Minha casa tem paredes, que também
dão para o norte,
para o centro da cidade, onde a vida espanta a morte,
para os bancos e o comércio, onde a morte espanta a sorte.
Quando atravesso as paredes,
eu caminho para o norte:
as costas dou à necrópole, numa burla dessa morte,
que me aguarda lá no sul...
por melhor
que seja a sorte.