A CEIA SEM CARDEAIS

Minha casa tem duas vistas, para o leste

e para o oeste:

às vezes chove a oeste e o sol o leste reveste;

às vezes chove no leste e no oeste o sol investe,

pois a casa tem duas vistas, para oeste

e para o leste.

Minha casa tem paredes: para o sul

é mais agreste:

para o sul é o cemitério,

para as vítimas da peste,

que muitos chamam de vida o final tão inconteste,

que é o cemitério da vida, quando a vida se desveste.

Minha casa tem paredes, que também

dão para o norte,

para o centro da cidade, onde a vida espanta a morte,

para os bancos e o comércio, onde a morte espanta a sorte.

Quando atravesso as paredes,

eu caminho para o norte:

as costas dou à necrópole, numa burla dessa morte,

que me aguarda lá no sul...

por melhor

que seja a sorte.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 22/10/2008
Código do texto: T1242122
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.