Sob o Sofá
Arrasto os móveis da sala
e inalo o pó das lembranças:
moedas, cheiros, memórias...
e até uma carta rasgada.
notícias sobre tua vida...
e tua ausência da minha...
caligrafia cansada
num texto cheio de truques
e voltas com tua mania
de sempre dizer tão pouco
e de falar nas entrelinhas
teu subtexto de escárnio.
torço tuas poucas palavras
pra que derramem sentidos
em gotas cor de grafite.
aí está
que ironia...
teu irritante
abuso de reticências...
e o desaforo de nenhuma exclamação...
...
poema feito de entulhos.
atrás de uma partitura;
num clima de "atrás da porta"
teus passos descendo a escada...
e na sala ainda em silêncio
desenho onomatopéias...
rasgo... amasso... releio...
mas ainda nada exclamo.