Barba azul
BARBA AZUL
E num desses dias
Que desobedecem vontades
Reviraste algumas gavetas
E abriste o quarto secreto
Das memórias exiladas
Quarto de fragmentos
Lembranças
Corpos...
Lamentos
Imagens fora de foco
Sinistras
Evanescentes
Convocaste meus espectros
Com um certo olhar de ausência
Pra me encontrares... de novo
Revirando páginas
De um livro intraduzível
E então arrastaste corpos
Pra um corredor de memórias
Convidando-os pra dançar
Mórbido ballet macabro
De cores esbranquiçadas
Para que eu então lembrasse
De velhas coreografias
Em cenários de isopor
No teatro das mentiras
E num delírio sereno
deram-se as mãos em ciranda
Em volta de um EU confuso
De olhos arregalados
Que foi então refugiar-se
Entre entulhos esquecidos
No tal quarto inviolável
Dois giros na fechadura
Melissa... sono profundo...
Pra logo mais me acordares.