Bulimia aos Treze, em 1999
Eu, que vivo da rua e tiro sorrisos de tapas amargos.
Eu, que preciso de cobertores por já se acostumar com a cheiro do álcool.
Eu, que ando de cabeça para baixo pra confundir os cães que um dia bateram em minha porta.
Eu, que esqueci o gosto do açúcar.
Um bilhete passa pela porta
As letras dizem "lar, doce lar"
O espantalho de papel não ri.
Não há um coração nem algodão em seu peito.
Muito menos costuras ou grampos.
Só as dobras que o fizeram.
Eu, que limpo minha boca com removedor,
Pra que palavras não virem armas.
Brindemos a cultura de nossas crianças.
Elas fazem o que fazemos,
e isso explica muita coisa.
Você, que viu o fim do mundo e se orgulha disso.
Eu, que vomitava vendo teve por 18 horas.
Lavarei meu rosto e farei as escolhas certas
Se existe o direito da escolha,
existe o certo e o errado.
Tudo pode ser libertinagem
Tudo pode vir da mórbida nostalgia
tudo e mais tudo pode ser de papel.