OLHAR E NÃO VER

Tantas vezes tuas mãos

percorreram os caminhos

à procura dos meus vãos

e escondidos cantinhos...

Tantas vezes tua língua

provou de mim os sabores

que aguardavam, à míngua,

por teus beijos sedutores...

Tantas vezes o meu cheiro

invadiu tuas narinas,

inebriou-te por inteiro

com mágicas purpurinas...

Tantas vezes teus ouvidos

ouviram ais do meu amor,

gemidos enlouquecidos

de êxtase, quiçá de dor...

Tantas vezes teus olhos

passearam por mim

devagar e sem parar,

deslizando feito em cetim...

Tantas vezes... e em nenhuma

viste a mulher que te quis,

perdida em meio à bruma

do teu olhar infeliz...

Lina Meirelles

Rio, 16.10.08