Homenagem ao Dia Nacional da Poesia - Sabem-me as mãos
Para ti poesia que sabe de mim, o que eu ainda não sei...
Sabem-me as mãos
Quando, amiúde
Ensaiam vôos de letras
Suspensas em suspiros
Entrecortados versos
De segredos e precipícios
Mãos que transbordam
Rasuras, oceanos e desertos
Sabem-me as mãos
Quando anoitecidas
Bocejam a angústia
Do olhar insone
Que não se reconhece
No espelho que o espreita
Pará cá do que se permite ver
Apenas a vida branda
Em enganadora sensatez
Sabem-me as mãos
Quando se deixam pendidas
Estendidas em nuvens
Parindo-me novos horizonte
Ou a navegar nas águas turvas
Onde os olhares mergulham
Em cicios, dissonâncias e sussurros
Confrontando a solidão da alma
Atravessada em indagações
Sobre o respirar da vida
Sabem-me as mãos
Quando vem do gris a palavra
Que se dissimula em quietudes
E o eco é a dor que cala
O frio corte da solitude
Em que se rasga o sentir exangue
Sabem-me as mãos
Que me alforriam algumas palavras
E me amordaçam outras tantas
Estancando a chaga dos lábios
Com torniquetes de silêncios
Contendo a caligrafia
Que sangra o teu nome, a saudade
Fernanda Guimarães