Ensaio sobre a espera
Parece que o movimento angustiante do ponteiro,
Que insiste em não parar,
Vai devorar minha minha mente e meu corpo.
Olho para o relógio
Numa vã esperança de que as horas avancem apressadamente,
Acelerando seu ritmo sincopado.
Por mais que eu tente preencher o tempo ocioso com idéias
Que me transportem para longe do relógio,
Este insiste em revelar-me seu corpo desnudo e cruel.
Enquanto aguardo o tão esperado e cauteloso futuro,
Minhas pernas tremem ao som crepitante e desolador do silêncio.
A espera é um eterno silêncio da solidão;
É mais do que demora,
É a construção de um surreal tempo controlável e amansador.
Cada segundo de espera na sala de minha sorte,
Parece-me mais uma delirante tortura de sentidos,
Onde me perco em devaneios esquizofrênicos
E viajo para um universo cinza,
Que também tem seu tempo evoluindo em câmera lenta.
O brilho das luzes se repete
Fazendo-me tornar novamente lúcido.
Pelo menos para mim,
Na minha loucura da espera,
A lucidez,
Mesmo que seja hipoteticamente real,
Ilumina minha pequenez
E faz piscar tristes números incessantes,
Com um olhar de meio deboche.