Ensaio sobre a espera

Parece que o movimento angustiante do ponteiro,

Que insiste em não parar,

Vai devorar minha minha mente e meu corpo.

Olho para o relógio

Numa vã esperança de que as horas avancem apressadamente,

Acelerando seu ritmo sincopado.

Por mais que eu tente preencher o tempo ocioso com idéias

Que me transportem para longe do relógio,

Este insiste em revelar-me seu corpo desnudo e cruel.

Enquanto aguardo o tão esperado e cauteloso futuro,

Minhas pernas tremem ao som crepitante e desolador do silêncio.

A espera é um eterno silêncio da solidão;

É mais do que demora,

É a construção de um surreal tempo controlável e amansador.

Cada segundo de espera na sala de minha sorte,

Parece-me mais uma delirante tortura de sentidos,

Onde me perco em devaneios esquizofrênicos

E viajo para um universo cinza,

Que também tem seu tempo evoluindo em câmera lenta.

O brilho das luzes se repete

Fazendo-me tornar novamente lúcido.

Pelo menos para mim,

Na minha loucura da espera,

A lucidez,

Mesmo que seja hipoteticamente real,

Ilumina minha pequenez

E faz piscar tristes números incessantes,

Com um olhar de meio deboche.

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 15/10/2008
Código do texto: T1229659
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