Os Fantasmas

Perdidos em idas e vindas,

Prisioneiros de amargas horas...

Refletem-se, bruxalentes,

Em espelhos trincados,

Com suas almas partidas,

Arrastando correntes

Em seus lamentos doentes...

Choram e praguejam,

Gritam e gemem,

Em sua não vida afora,

Aos vivos assombrar...

Fantasmas do passado,

Errantes,

Desamados...

Desiludidos a penar.

Eternamente atormentados

Neste mundo acorrentados...

Na calada da noite,

Suas histórias vem me contar.

O primeiro é uma donzela,

Triste, alva e bela....

Fantasma de um amor perdido,

Que fita a porta em desalento...

Aguarda até o nascer do dia

A chegada de alguém que poderia

Por um fim a seu tormento...

Mas ela se lamenta e chora,

Quando a noite enfim vai embora...

Quando o sol cair,

Novamente irá pelo mundo errar...

O segundo é uma mulher...

Também bela, também triste, mas desesperada...

Está ferida, insegura, cansada...

Mostra os pulsos fendidos

Fruto de seu fim sangrento...

A suicida geme, chora e estremece,

Me inquirindo sobre como a redenção vai alcançar...

Eu só posso ouvi-la e deixá-la chorar...

Não posso ajudá-la nesse momento.

A terceira é uma senhora idosa,

Brancos cabelos,

Linda como um camafeu de marfim....

Mas o negro da tristeza vinca sua face,

Assim

Como a grossa corrente de saudade,

Que vive a arrastar...

Não acredita em outra vida,

Por isso vive a vagar,

Por esta que não lhe cabe mais...

E diante dessas três mulheres fantasmagóricas,

Com diferentes tormentos,

Diferentes histórias,

Ficou eu,

Com a mente a vagar...

Ouvindo coisas que ninguém quer escutar...

Dando vida a fantasmas que se desfazem no ar

Mal o sol se ergue,

Mal a escuridão se vai...

E entre um e outro "ai",

Dou-me conta do que as ancora...

Faltou-lhes realmente viver...

Viver por completo,

Cada momento...

Por isso o lamento,

Por isso o desespero a amargar:

Não viver a vida e o fim derradeiro chegar.

Zannah
Enviado por Zannah em 14/10/2008
Código do texto: T1228814
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