Tumor Maligno

Um corte na mão eu tenho;

são essas pessoas,

desfilando sua arrogância

em saltos tão altos quanto a pequeneza de sua dignidade.

O corte sangra

e se abre cada vez mais;

são as pessoas dilacerando minhas carnes

com seus olhos malditos.

Não me deram o aperto de mão,

ou o carinho que esperava por ter sido

trino.

Puro de um coração tão machucado

e tão voraz quanto a hostilidade da qual sou alvo.

Um alvo inerte,

como jamais fora.

Não é um cantar arrependido,

e nem é pela lágrima que cai.

É por esses olhares famintos,

por essas bocas malditas

e pelas mulheres mal-comidas.

Parece, às vezes, cortar veias

e artérias principais,

jorrando o sangue tão negro

do meu coração tão cálido.

Parece mastigar meus olhos

em luzes foscas

e em pensamentos que se esvaem nessa dor tão viva.

É mais como uma sensação de partida;

a alma se perdendo e se misturando no corpo decomposto.

Sim, são essas falas dessas pessoas.

Entram em mim

com a virilidade e o ódio de sempre.

É um câncer,

a estuprar minha essência

e devorar meus rins e intestinos.

Ainda estou vivo,

pessoas que conjecturam.

Não há amor que me cale,

ou ódio que me mate.

Só o meu querer é transcendente

e faz de mim a verdade

e a palavra.

Sou a Morte mais sensata

e o suicídio mais exato.

Sou aquele mesmo poeta que, outrora, cantava as falas do povo.

Ainda sou o grão de areia

em vossa praia de cinzas.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 14/10/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T1227784
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