Tumor Maligno
Um corte na mão eu tenho;
são essas pessoas,
desfilando sua arrogância
em saltos tão altos quanto a pequeneza de sua dignidade.
O corte sangra
e se abre cada vez mais;
são as pessoas dilacerando minhas carnes
com seus olhos malditos.
Não me deram o aperto de mão,
ou o carinho que esperava por ter sido
trino.
Puro de um coração tão machucado
e tão voraz quanto a hostilidade da qual sou alvo.
Um alvo inerte,
como jamais fora.
Não é um cantar arrependido,
e nem é pela lágrima que cai.
É por esses olhares famintos,
por essas bocas malditas
e pelas mulheres mal-comidas.
Parece, às vezes, cortar veias
e artérias principais,
jorrando o sangue tão negro
do meu coração tão cálido.
Parece mastigar meus olhos
em luzes foscas
e em pensamentos que se esvaem nessa dor tão viva.
É mais como uma sensação de partida;
a alma se perdendo e se misturando no corpo decomposto.
Sim, são essas falas dessas pessoas.
Entram em mim
com a virilidade e o ódio de sempre.
É um câncer,
a estuprar minha essência
e devorar meus rins e intestinos.
Ainda estou vivo,
pessoas que conjecturam.
Não há amor que me cale,
ou ódio que me mate.
Só o meu querer é transcendente
e faz de mim a verdade
e a palavra.
Sou a Morte mais sensata
e o suicídio mais exato.
Sou aquele mesmo poeta que, outrora, cantava as falas do povo.
Ainda sou o grão de areia
em vossa praia de cinzas.