DE OLHOS E GENTE

Vi quando as águas me olharam.

Uma leve vertigem enquadrou

a timidez do seu movimento,

acrescentando-lhe brilhos dispersos

em dourado profundo.

Por baixo o tempo ecoava em verde

uma história escorrida de plantas

alongando-se em bênçãos ao mundo.

Peixes escondiam nas profundidades,

á sombra da minha curiosidade,

olhos esbugalhados por um terror inútil.

Árvores pingavam esporádicas flores,

erguendo cânticos de fecundidade

nas cores da sua língua antiga.

O momento foi perfeito.

Ali perto um asfalto preto repousava

como um monumento á inutilidade,

quase-negro, pontilhado a branco.

Longe, havia as vozes indistintas

dos homens dobrados nos campos,

invejando-me o ócio estranho.

Felizes, os meus olhos

escureciam brilhos

e guardavam tudo.

Outubro 2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 13/10/2008
Reeditado em 13/10/2008
Código do texto: T1225561
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