MUITOS & TANTOS

Agora, uma vez mais, te faço uma promessa:

daqui por diante, serei o que me pensas,

terei todos os homens que me habitam,

que são muitos e tantos,

que nem me sobram olhos pra te encontrar.

Farei todas as loucuras que me torturam,

direi todas as mentiras que me atormentam,

e são muitas e tantas,

que já não sei o que é verdade em tua boca.

Cantarei todos os salmos que nunca soube,

usarei decotes, transparências, extravagâncias,

beberei todas, fumarei tudo,

amanhecerei na sarjeta,

vomitando luas e versos,

blasfemando contra os dias e as noites,

com esse soluço preso na garganta.

Entoarei lamentos de beatas pálidas,

entornarei o bálsamo de gotas cálidas,

que me escorrem viscosas pelo rosto em brasa,

até que tu me chegues novamente,

digas o quanto me amas,

o quanto me queres bem,

para que toda essa dor se evapore,

e eu esqueça, uma vez mais,

essa promessa.

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