Eu
O que sou?
Quem sou eu?
Um pedaço de menino,
Uma febre poética,
Um nó movediço
De muitos mistérios
E aliterações.
Uma gota de singeleza
A arfar na realidade,
obliterando, quem sabe, um amor.
A mutabilidade aceitável.
A complexidade.
Eu não sei o que sou
Nem pra que fim me tenho existido.
Entretanto, por entre homens,
tenho vivido e agonizado
Como um pedaço de carvão,
e resistido à tentação maior
De se defenestrar.
Quando pedaço, talvez eu fosse mais feliz.
Não reclamo, não.
Alguém me ama, amo,
E tenho excitado-me,
em esforços poéticos,
para fazer com que a vida
tenha alguma finalidade extra,
exceto essa de pegar flores e
atirá-las fora. Despetaladas.
É uma sutileza nervosa, essa de existir.
Mas quem sou, não sei.
Continuo irrompido, inconcluído.
Bêbado.
Cancerígero.
Dosático.
Extático.
Estático.
Às vezes, sóbrio e humilde.
Em geral, com uma mesquinhez aflorada,
uma inveja cáustica, moralmente pornográfico;
embora religioso e temente,
continuo a pregar o cristianismo.
O mundo, às vezes, é impossível.
As pessoas, idem.
E viajo em elipses simbólicas
de ópios regulares cerebrais.
Não, não uso estimulantes psicoatores.
Ou os uso, de forma branda,
com versos e elegias melancólicas
extraídas de cá dentro, latentes.
Não me admiraria, portanto, morrer jovem.
Mas não.
Tenho ainda uma sensibilidade capaz,
um amor por zelar,
uma estória a fabular,
exércitos a construir
e outras coisas a derrubar.
Sou tocável por experiênicas místicas,
por renovações seculares
e pela filosofia barata dos livros obsoletos.
Viver é tatear sinestesias,
obscurecer a razão alheia,
propor soluções mirabolantes
e aceitar apático o que lhes dão.
Eu sou mais ou menos isso:
- o reinventado viver.
Tantas vezes, o que sou,
Que até eu tenho medo de mim.
(Die)