BORBOLETAS

eu achava bonita a sala

o sofá

a cadeira de balanço

o arranjo de flores vermelhas sobre a mesa

a televisão acendendo e apagando cores nas paredes branco-gelo

como dava gosto olhar os porta-retratos

as estatuetas

a geladeira coberta por um paninho de renda

que bonito era o abajur no canto do quarto

sobre o criado mudo

e aquela colcha que só usava vez em quando

as cadeiras da mesa esperando visitas

que prazer sentia em mostrar as fotos da família

a cortina na janela

a árvore de Natal

o guarda-roupa perfumado

organizado

a casa toda quietinha

o vento abanando as bordas da toalha da mesa

como eu gostava de ver a família junta no jantar

e ouvir a Ave-Maria

a Bíblia no console

o espelho fotografando as cenas

mas todos viraram borboletas