Incerta é a mão que calça a luva

Incerta é a mão que calça a luva,

Que segura a pena,

Que escreve sem parar...

Escreve em horas serenas,

Em horas amargas,

Em qualquer hora que a inspiração convidar...

Nesta vida estamos só de passagem,

Como ignorar a doce aragem

Que cheia de perfume de flores vem nos beijar?

Dizem muitos que o sentir é mutável,

Que o coração é instável,

Que se desintegra de pesar...

Quem assim pensa

Desconhece a poesia...

Nunca soube expressar,

Em nenhum dia,

Todas as singelas surpresas que a vida vem dar...

Incerta é a mão que calça a luva,

Bem sei...

Mas consciente se torna ao pegar a pena...

Quando de uma coisa tida como pequena,

Transcreve todas as rimas,

Todos os contos,

Todos os cantos,

Desilusões, tristezas, desencantos...

Que liberta a alma ao escrever...

Que se cura ao se expressar...

É disso feito o poetar...

De mente inquieta,

De sentimento bruto,

De coragem, de luta...

De pequenas coisas

(para os outros)

Que vem nos inspirar...

É isso que torna consciente a mão,

Arrancando dela a luva...

A necessidade de viver,

De crescer,

De se libertar...

É isto que faz a pena ao deslizar...

E na escrita, todo o sentir,

Aos poucos,

Começa a se lapidar...

E conforme trabalhamos,

Com a paciência de um joalheiro,

Redescobrimos um mundo inteiro,

Que havíamos esquecido de olhar...

A escrita devolve as asas que julgavamos partidas...

Nos permite exorcismos, despedidas...

Nos impulsiona a findar uma página da vida

E outra começar.

Zannah
Enviado por Zannah em 11/10/2008
Código do texto: T1223466
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