A caixa amaldiçoada
Prisão amaldiçoada,
Na forma de pequena caixa lacrada,
Cercada de rosas mortas...
Cerrada atrás de duas portas,
Grades de aço,
A proteger e zombar...
Tantos passaram a se perguntar
O que tal caixa guardaria...
Fitavam ao longe,
Entre as grades,
A superfície polida e aparentemente fria,
Aguçando os ouvidos ao ouvir um murmurar...
Sim, há alguém na caixa...
Não faz sentido,
Por ser tão pequena,
Até que se saiba
Que é feita de diferentes maldições...
Basta perguntar a um dos zelosos guardiões,
Que se revezam para vigiar...
De dia, de noite, até o fim dos tempos,
Se a maldição não se quebrar.
Os murmúrios da caixa são lamentos...
Sonhos desfeitos,
Canto que tornou-se pranto...
Amor que tornou-se dor...
Alegria que se foi e que não vai voltar...
Não enquanto lacrada a caixa continuar.
Não se ninguém descobrir qual o verdadeiro segredo.
Afinal, todos se encantam com a caixa,
Com seus desenhos intrincados,
Com os mistérios ali guardados...
Mas ninguém se dá conta:
A chave que abre as grades está ali...
Pendurada no centro da sala,
Na frente de todos!
Como os seres humanos são tolos...
Presa a uma fina trança de cabelos rubros,
A chave balança,
Dança enquanto o vento fica a brincar...
Pequena chave de ouro,
Finamente trabalhada...
Com várias pérolas cravejada,
Com brilhantes e rubis a cintilar...
Mas diante de tanto mistério,
De grades tão cerradas,
De guardiões perfilados,
De modo exemplar,
A chave no meio da sala não é nada...
Não atrai atenção,
Não causa emoção...
É tão pequena que nem se faz notar.
Mas chave que abriria as grades,
Que descerraria a caixa,
Que poria fim ao mistério...
Está ali...
Escondida por estar no lustre pendurada.
Bastaria alguém, por um único momento,
Os olhos erguer...
A mão estender e pegar,
Sem hesitar...
Mas isso implicaria em olhar o todo,
Não um único ponto...
Em procurar algo tão pequeno,
Capaz de libertar...
Infelizmente,
Para quem está preso na caixa,
Ninguém olha para cima...
Ninguém vê a chave de ouro,
Feita de sua esperança roubada,
Cravejada por lágrimas derramadas
E por fragmentos de um coração a sangrar.
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Passaram-se os anos,
Tombaram gerações...
Findaram-se invernos,
Iniciaram verões...
E num outono,
O feiticeiro que criara a caixa,
Foi de sua prisioneira zombar...
Ofereceu-lhe a liberdade em troca de sua alma,
Mas a prisioneira recusou-se...
Sabia que, sozinha, poderia se libertar.
Por isso ela ficou anos na caixa a murmurar...
Mas em lugar de lamentos,
Nos últimos anos, murmurara orações...
O feiticeiro, tarde demais,
Percebeu que algo havia mudado...
Encerrara na caixa uma menina bela e tola,
Mas a prisioneira que o desafiava agora,
Não o era mais.
Ele esquecera do poder da fé,
Da esperança...
Que fazia com que, a cada prece,
A maldição fraquejar...
De repente, o feiticeiro se pôs a gritar...
A rogar novas pragas,
A tentar reforçar a maldição...
Em vão.
E para o horror do feiticeiro
A caixa trincou,
A noite o alcançou...
E ele tornou-se prisioneiro!
E se afastando daquele lugar,
A ex-prisioneira,
Antes menina e agora mulher,
Se pôs a cantar...
Agora era livre!
O mundo era dela!
E o feiticeiro?
Histórias de fadas são belas...
São simples...
Então, devem saber que,
Devido a sua própria maldição,
Ele ainda é prisioneiro...
E como é pura maldade,
O encanto que o encarcera
Não há de se quebrar...
(Não que alguém lamente por ele
Além dele mesmo...
Que preso na caixa,
Vive a berrar).