DUNA

Na sombra daquela duna

ergui meus panos e confortos,

com lanças altaneiras

firmadas em estacas profundas.

Isolei-me de todos os ventos,

das areias invadindo as mantas ,

do assobio triste das tempestades.

Espalhei muitas peles pelo chão,

velas aromáticas nas bandejas douradas

e alimentos ricos por toda a parte.

Teci com um fio de prata fina

uma coberta forte e brilhante

que ao espelhar o mundo

se integrasse e se tornasse invisível,

num mimetismo perfeito.

Sobre ela se repetiriam

os mais magníficos amanheceres

em tons ricos de vermelho e ouro,

e sorrisos azuis de céu perfeito.

A sombra rodaria e chegaria cedo,

o calor maior duraria apenas um pouco,

e a noite traria as estrelas como promessas

de beijos ocultos em brilhos.

A cada pormenor em infinitos cuidados

sucederam-se requintadas cores

e vôos de garça em graças de primavera.

Mas aos chamados de tantos detalhes

responderam silêncios em notas baixas,

como uma voz rouca em desprezos de valor.

Os requintes careceram de significado,

e o seu rumo diluiu-se na paisagem,

em mapas que ninguém desenhou.

Mas nas areias há indícios e memórias

de passos leves e atrevidos nas trilhas,

vagando no meio das tardes.

E bocas brincam nas flautas dos pastores,

trazidas pelos ventos cardeais,

como ecos gostosos de uma outra vida.

Delas virão mensagens claras de

rumos e mapas bem traçados,

em convites impossíveis de ignorar,

como caminhos feitos de estrelas

apontando a outros panos erguendo-se,

tecidos em fios de prata fina.

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 11/10/2008
Código do texto: T1222879
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