DUNA
Na sombra daquela duna
ergui meus panos e confortos,
com lanças altaneiras
firmadas em estacas profundas.
Isolei-me de todos os ventos,
das areias invadindo as mantas ,
do assobio triste das tempestades.
Espalhei muitas peles pelo chão,
velas aromáticas nas bandejas douradas
e alimentos ricos por toda a parte.
Teci com um fio de prata fina
uma coberta forte e brilhante
que ao espelhar o mundo
se integrasse e se tornasse invisível,
num mimetismo perfeito.
Sobre ela se repetiriam
os mais magníficos amanheceres
em tons ricos de vermelho e ouro,
e sorrisos azuis de céu perfeito.
A sombra rodaria e chegaria cedo,
o calor maior duraria apenas um pouco,
e a noite traria as estrelas como promessas
de beijos ocultos em brilhos.
A cada pormenor em infinitos cuidados
sucederam-se requintadas cores
e vôos de garça em graças de primavera.
Mas aos chamados de tantos detalhes
responderam silêncios em notas baixas,
como uma voz rouca em desprezos de valor.
Os requintes careceram de significado,
e o seu rumo diluiu-se na paisagem,
em mapas que ninguém desenhou.
Mas nas areias há indícios e memórias
de passos leves e atrevidos nas trilhas,
vagando no meio das tardes.
E bocas brincam nas flautas dos pastores,
trazidas pelos ventos cardeais,
como ecos gostosos de uma outra vida.
Delas virão mensagens claras de
rumos e mapas bem traçados,
em convites impossíveis de ignorar,
como caminhos feitos de estrelas
apontando a outros panos erguendo-se,
tecidos em fios de prata fina.