História de Areia

Estância erma!...

Sol de deserto!...

Em meu caminho, me deparei

com o que fora um lindo castelo, semi destruído.

Em sintonia com o astral de tais escombros,

ouvi sua voz, vinda de séculos de asperezas!

-Com tal labor, me construíram, os arquitetos!

Idealistas, corações puros!...

Com sua bondade levantaram-me as paredes

Gente alegre, de bem com a vida!...

Com a alegria, fortaleceram-me as fundações!

Almas sensíveis e criativas...

Nessas muralhas que podeis ver que existiram,

jamais um olhar tentou avistar um inimigo!!

Nunca os teve!

Logo estas guaritas, viraram um bom lugar a aves e ninhos,

pois, aqui cantavam, tinham e criavam os seus filhinhos,

tornando este, o reino cantante, dos passarinhos!

Por meus salões passaram condes com suas condessas...

Belos Marcondes, acompanhados de suas marquesas...

Passaram príncipes, enamorados de suas princesas...

Passaram reis e suas rainhas, com muitos súditos

muito vassalos e o Coringa - bobo anão -

feito palhaço, cujo fulgor de sua mente,

se disfarçava em feiúra e graça.

(Dentro em mim, me lamentei

pela destruição daquele reino,

de gente tão superior!)

E aquela voz vinda de escombros,

assim falou:

- Não se lamente, cara poeta!

Sou só aparência,

como qualquer outro castelo de seu planeta!

E os arquitetos que me fundaram e me habitaram,

-nobres altezas-

imaginaram e representaram os seus papéis,

como fazeis, em vosso mundo,

vossas importâncias!...

vossos tesouros!...

vossas grandezas!...

-Mas...

Disse o castelo, com suas palavras arenosas,

-Me abandonaram,

quando a marola veio buscar-me

em seu afã de marolar.

Aqueles seres, me vendo assim, a soçobrar,

se riram muito, bateram palmas e debandaram...

...foram brincar noutro lugar!

A diferença entre meus construtores e os outros

de outros castelos, muito maiores,

é que estes sabem que somos feitos de areia

e transitoriedade

e que eles representam papéis...

Quando assim falava,

num afluxo, uma onda desfez do castelo,

o que restou.

E, as palavras feitas de marcas, rastros, vestígios,

se alisaram... planificaram...

silenciaram-se tantas histórias!

Suas palavras de areia e glória,

em seu refluxo, o mar levou!

Eme Paiva

Maria Mercedes Paiva Paiva
Enviado por Maria Mercedes Paiva Paiva em 12/03/2006
Código do texto: T122033