ONDE ME PERCO

Perco-me onde se perdem as palavras.

Naqueles meandros escusos das emoções sufocantes,

onde se rasgam os gritos do que a voz não diz

e que os silêncios tampouco conseguem traduzir.

E perco-me nos sentidos remotos, dúbios, implausíveis,

do impensável tornado mavioso para alguém,

insuspeitadamente.

Perco-me no verbo curto, seco, incapaz,

dos sentimentos confusos, mal definidos,

e nas cores átonas do que fica por dizer.

Perco-me onde se perdem as palavras.

Onde outros valores se instalam, desafiantes,

ganhando disfarçados espaços e sentidos,

numa outra vertigem igualmente néscia.

Perco-me onde nos perdemos todos,

onde o diálogo e as palavras se ausentam.

Outubro 2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 08/10/2008
Código do texto: T1218483
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