ONDE ME PERCO
Perco-me onde se perdem as palavras.
Naqueles meandros escusos das emoções sufocantes,
onde se rasgam os gritos do que a voz não diz
e que os silêncios tampouco conseguem traduzir.
E perco-me nos sentidos remotos, dúbios, implausíveis,
do impensável tornado mavioso para alguém,
insuspeitadamente.
Perco-me no verbo curto, seco, incapaz,
dos sentimentos confusos, mal definidos,
e nas cores átonas do que fica por dizer.
Perco-me onde se perdem as palavras.
Onde outros valores se instalam, desafiantes,
ganhando disfarçados espaços e sentidos,
numa outra vertigem igualmente néscia.
Perco-me onde nos perdemos todos,
onde o diálogo e as palavras se ausentam.
Outubro 2008