FALAR DA AUSÊNCIA
chegaram-me, dolorosos
ecos de sonhos em boca de poetas
vivos, recitantes
chegaram-me
anacos das velhas obsessões
o cheiro do fumo de antigas batalhas
a inflamar as cinzas ainda
vermelhas em campos tristemente arrasados
os olhos coagularam algumas gotas
da chuva daqueles tempos
temporais de saraiva e de fogo
que nem no inferno...
chegaram-me e tocaram malvados
as pétalas inertes
evocando trémulas ondagens
na frente a certeza de não haver
mais terramotos nem luares
e na boca, ah, na boca
na boca...
o falar da ausência