Estrela Cadente

Não sei mais quem sou.

Estou em outra realidade...

se é que é real.

Grito teu nome no cosmos;

vejo teus olhos na fábula dos meus erros.

Sinto o prazer alucinógeno

de estar preso a Morfeu por mãos tão negras.

Sinto o cheiro do teu corpo,

entrelaçado no meu mais profundo desejo.

Transcendo e flutuo no espaço

a beijar estrelas

e alpes marcianos.

Deságuo mares de dor

em explosões solares.

Sou um Bóson;

o Bóson de Higgs.

Sou a partícula criadora.

Teu deus, a berçar o universo em brumas e poeiras.

Nos misturamos.

Somos o um.

A criatura de nosso erro tão correto e linear.

Eu sou você

e você faz parte de mim.

Estamos a passos largos,

carregando o andar inconseqüente.

Cai uma chuva astral sobre nós.

São lágrimas brilhantes

de um céu de baunilha;

é apenas uma gota.

Ela vem forte como chuva em dia de trovoada;

vem repentina como o amor.

E traz verdades

de farinha em cacos brilhantes.

Ela cai como a última lágrima

de Dionísio do céu.

Ela cai do céu.

É o último choro,

é o último pranto que Dionísio derrama sobre esses mortais.

Loucos e entregues ao devaneio de uma madrugada curta

e de longo sofreguidão...

e terror, e temor,

e dor

por toda a calçada

espalhada.

Caído de boca no bueiro

e de boca no sangue que escorre,

e no tombo,

e na dor de todo ser pulsante

e vivo.

Que sofre e vê a estrela cadente

e o fogo descendo

a cada cortar da madrugada;

a cada dia.

Mas só nós percebemos, meu amor.

E não contamos,

e sofremos,

e dormimos,

e morremos.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 08/10/2008
Reeditado em 26/11/2008
Código do texto: T1217433
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