Estrela Cadente
Não sei mais quem sou.
Estou em outra realidade...
se é que é real.
Grito teu nome no cosmos;
vejo teus olhos na fábula dos meus erros.
Sinto o prazer alucinógeno
de estar preso a Morfeu por mãos tão negras.
Sinto o cheiro do teu corpo,
entrelaçado no meu mais profundo desejo.
Transcendo e flutuo no espaço
a beijar estrelas
e alpes marcianos.
Deságuo mares de dor
em explosões solares.
Sou um Bóson;
o Bóson de Higgs.
Sou a partícula criadora.
Teu deus, a berçar o universo em brumas e poeiras.
Nos misturamos.
Somos o um.
A criatura de nosso erro tão correto e linear.
Eu sou você
e você faz parte de mim.
Estamos a passos largos,
carregando o andar inconseqüente.
Cai uma chuva astral sobre nós.
São lágrimas brilhantes
de um céu de baunilha;
é apenas uma gota.
Ela vem forte como chuva em dia de trovoada;
vem repentina como o amor.
E traz verdades
de farinha em cacos brilhantes.
Ela cai como a última lágrima
de Dionísio do céu.
Ela cai do céu.
É o último choro,
é o último pranto que Dionísio derrama sobre esses mortais.
Loucos e entregues ao devaneio de uma madrugada curta
e de longo sofreguidão...
e terror, e temor,
e dor
por toda a calçada
espalhada.
Caído de boca no bueiro
e de boca no sangue que escorre,
e no tombo,
e na dor de todo ser pulsante
e vivo.
Que sofre e vê a estrela cadente
e o fogo descendo
a cada cortar da madrugada;
a cada dia.
Mas só nós percebemos, meu amor.
E não contamos,
e sofremos,
e dormimos,
e morremos.