A espera não pode me perturbar.

A espera não pode me perturbar

Falamos línguas desiguais

Não pode entender o que digo

Não posso lhe convencer

Da certeza dos meus argumentos

Não anda pelas ruas da cidade

Flutuas na alta sociedade

Não fala a língua do povo

Não ouve o lamento do morro

Nunca entrastes num ônibus

Não sabe o que é periferia

Não quero o seu aplauso

Fraco de braços flácidos

De nada fazer, tens dinheiro.

Podes comprar, o aplauso.

E o sorriso, mas, nunca.

A compreensão do que escrevo

Não quero compreensão

Para entender é preciso sentir

Para sentir é preciso viver

Para viver é preciso participar

Não podemos dizer nós, quando não.

Participamos, não é justo dizer nós.

Quando sempre permanecemos ausentes

Não sou político sou poeta

Esta é minha sina, conheço.

A poesia da rua não a de gabinete

Nem de bibliotecas vivo a poesia

Do dia a dia do ombro a ombro

Do olhar no olhar. Se um dia voltar

Ao mundo real pode me procurar

Vou lhe apresentar aos poetas

Que sem papel sem caneta

Fazem poemas.

E os escrevem na memória.

E os dizem todo dia em qualquer

Esquina sem medo

De ridículos críticos.

ABittar

Poetadosgrilos