Drama e Cólera

Quero acabar com esta noite

Como quem se lança à morte

E dispersar-me tal como açoite,

Desejar-me sorte.

Vou invadir a tua casa,

Eu vou rasgar os teus vestidos

E a tua boca vermelha, já sem graça,

Do meu peito contrito.

Abandonarei tua criança

Ao léu daquela rua sem fim

E ao gemer de uma iludida esperança,

Estou fora de mim!

Joguei tudo para o alto

E deixei a porta aberta.

Agora sinto, nos pés, o asfalto

Da trilha dessa minha vida tão incerta.

Deixa de tantos rodeios,

Já provaste da ferida

Do amargor dos meus anseios

Dessa mísera e pequenina vida.

Escancarastes minhas portas,

Mas deixei tudo ocorrer despercebidamente

E rebusquei-me nas tuas linhas tortas,

Quando me recebeste desinteressadamente.

Basta e eu já nem sei

De qual das mãos o amor caiu.

Sonhando, até pensei,

Com qual de nós dois ele aderiu...

Tentando mil disfarces,

Pesou na consciência

Que desse desempate

Sobrou a inconseqüência.

Chegou a hora do adeus.

É desse mesmo jeito, tem de ser!

Confidencio, ó pensamentos meus:

Por que tudo isso tinha que acontecer?

É tarde e eu preciso ir,

Deixe-me apenas carregar esta dor.

A dor que não posso impedir

Que leves consigo o resto do amor.

Bento Verissimo
Enviado por Bento Verissimo em 07/10/2008
Código do texto: T1216475
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