Drama e Cólera
Quero acabar com esta noite
Como quem se lança à morte
E dispersar-me tal como açoite,
Desejar-me sorte.
Vou invadir a tua casa,
Eu vou rasgar os teus vestidos
E a tua boca vermelha, já sem graça,
Do meu peito contrito.
Abandonarei tua criança
Ao léu daquela rua sem fim
E ao gemer de uma iludida esperança,
Estou fora de mim!
Joguei tudo para o alto
E deixei a porta aberta.
Agora sinto, nos pés, o asfalto
Da trilha dessa minha vida tão incerta.
Deixa de tantos rodeios,
Já provaste da ferida
Do amargor dos meus anseios
Dessa mísera e pequenina vida.
Escancarastes minhas portas,
Mas deixei tudo ocorrer despercebidamente
E rebusquei-me nas tuas linhas tortas,
Quando me recebeste desinteressadamente.
Basta e eu já nem sei
De qual das mãos o amor caiu.
Sonhando, até pensei,
Com qual de nós dois ele aderiu...
Tentando mil disfarces,
Pesou na consciência
Que desse desempate
Sobrou a inconseqüência.
Chegou a hora do adeus.
É desse mesmo jeito, tem de ser!
Confidencio, ó pensamentos meus:
Por que tudo isso tinha que acontecer?
É tarde e eu preciso ir,
Deixe-me apenas carregar esta dor.
A dor que não posso impedir
Que leves consigo o resto do amor.