As Duas Fatias
Pedi a Deus para morrer em teus braços
Mas não quis confidenciar-lhe o motivo
Deus, estúpido que é, achou que por amor
Pobre velho...
Nem notou que minhas lágrimas eram salgadas demais
E que o amor, diferente das paixões, é insosso.
Arrogante como é esbravejou seus trovões
Ao notar que minha loucura era puro ensaio
E que havia eu enganado-o
Já que sacrifícios não purificam um mau coração...
Cortei então meu coração em duas fatias
Para enganar-lhe com uma enquanto escondia a outra.
Escondi-a no estômago...
Mas, ainda assim morri por amor
Enganei-o porque não morri por amor a ti
Morri por amor a mim... só a mim mesmo
E só queria incomodar-te
E castigar com qualquer lembrança
O teu coração solitário... e vivo.