Poema da Volta
Poema da Volta
Maria da Graça Almeida
O trem a balançar me levava,
seguindo a quente manhã,
eu carregava na bolsa
biscoitos e uma maçã.
As casas corriam lá fora,
também o campo e a flor,
tudo era verde no campo,
tudo na flor era cor.
E assim correndo comigo
nem ao menos olhavam o trem,
atordoados, sentindo
o balanço do vaivém.
Trens que seguem ao norte,
trens que rumam ao sul,
uns em preto e prata,
outros pintados de azul.
A viagem fazia-se longa,
eu já um tanto enjoada,
ouvia do trem o apito,
soando-me feito um grito!
E o trem resfolegante se ia...
Na paisagem o olhar eu perdia.
Meus pés com certo inchaço
mostravam um ser em cansaço.
Finalmente adormeci.
Foi sono férreo, profundo,
mas ouço a voz que me chama:
- Moça, já é Pindorama!
Acordei assustada, eu juro!
Era tarde, fazia-se escuro.
Tão grata fiquei nessa hora,
por não me chamarem: senhora!
É que ao deixar a cidade,
era jovem e saí sem vontade...
Agora, voltando senhora,
de volta tenho a mocidade.
Por isso chamada de moça,
pelo guarda do trem que sorria,
digo ainda que estranho lhe soe:
- Seu guarda, que Deus o abençoe!