Por Metade De Uma Lágrima
I – O pedido
Oh, por favor...
Ajude-me a levantar, meu bom senhor.
II – A causa
Eu carreguei estas dores por toda a vida
Sozinho, carreguei esse fardo
Deixei correrem horas entre minhas decepções
Como quem não se importa em desperdiçar os últimos segundos
Já que ontem todos os meus sonhos foram lacrados
E por ironia dos deuses
Apaixonei-me pelos famintos
E escolhi, tal como eles, engolir o estômago.
III – A finalidade
De alguma forma optei por tudo o que é destruição
Ao vislumbrar dos momentos de declive
Como alguém que se trai na apatia
E deseja tornar-se, somente por mais uma vez, o feto...
Tão logo quanto perdi o conforto
Que entorpecia-me de satisfação
Dispersei cada mentira escrita nos epitáfios
Das flores mortas que ninguém lembra arrancar.
IV – A conseqüência
Ah, como amaldiçoei este amor por tudo que é forjado
Como na primeira vez em que desejei estar morto
Tropeçando ao ensaiar minha angústia
Chorando como se insuflasse o ego dos esquálidos
Vaguei injuriado pelos túmulos
Injuriado por não sentir desespero nenhum
E não sentir a dor ao costurar minhas feridas
E nem o gosto ao lamber as minhas chagas.
V – O preço
E o meu desejo foi que ouvisse-me por somente mais uma vez
O preço...?
Metade de uma lágrima...