IMORTAL
Imortal
É quem sabe ler os lábios,
Obedecer aos olhos,
Ouvir o silêncio interior
E arrepiar a pele sem tocá-la.
Imortal
É quem sabe beijar sem boca
Nas horas mais agônicas da vida,
Inebriar-se com paisagens alheias
Mesmo com vendas escuras nos olhos,
Abandonar o sono letárgico
Sem a ajuda cruel do despertador,
Deixar-se penetrar sem fendas
Como óvulo à mercê do espermatozóide.
Imortal
É quem sabe amar sem coração.
É quem sabe absolver sem penitências.
Escrever sem palavras.
Perdoar sem crença.
Rezar sem fé.
Ensinar sem nunca ter aprendido.
Imortal
É quem morre à noite
Como um anão derrotado
E ressuscita na manhã seguinte
Como um gigante indomável,
Todos os dias,
O tempo todo.