PRÉVIO
Lílian Maial


E foram tantos os avisos,
tão óbvias as pistas,
que decidi não acreditar
e me deixar queimar.

Oh, doce fogueira,
que me arde a cada centelha!
Fácil delimitar a perdição,
a entrega, a emoção,
nos teus cílios ligeiros,
teus lábios matreiros,
teus olhinhosindefesos.

E tive tantas provas,
tantas certezas do engano...
mas minha teimosia venceu.

Ah, essa minha sina nômade,
andarilha de corações de pedra!
Nem uma sombra,
um oásis,
uma pocinha de chance,
nada!

Eu sabia, mas insisti.
Falei o que não devia.
Escancarei o peito.
Danei-me eu!
Eu e esse amor ridículo,
como as ridículas cartas de amor de Pessoa.

Agora é remendar meus trapos,
colar meus cacos,
e lamentar não ter aprendido a mentir.

Chorar a saudade,
entornar o caldo,
olhar no espelho,
arregaçar as mangas,
caprichar na maquiagem
e trancar os soluços,
o telefone mudo
e o arrastar das horas,
até o fim do aviso prévio.


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