TRÊS DIAS

E só se precisou de três dias para tudo acabar

O mundo desabou, em apenas três únicos dias

E o Sol veio a Terra, devorando a tudo com seu calor faminto

E na noite escura do primeiro dia, um anjo vermelho

Vindo de direções longínquas tocou sua trombeta

Anunciando o desastre porvir

Em uma língua que não se podia ouvir

E na noite só houve choro e ranger de dentes

E do meu castelo de paredes úmidas e descascadas

De janelas apodrecidas e escadas em queda

Nem uma torre solitária se quedou em pé

Depois que a terra rugiu e tremeu de fúria e desespero

O clarear do segundo dia prometeu bálsamos

E então um segundo anjo de voz profunda e bela

Veio em meio à neblina, curou as feridas do combate

E embalou a todos em seu cântico lento e simples

Mas então surge no horizonte, na hora sombria da noite escura

Entre os gemidos adormecidos dos guerreiros e plebeus

Um anjo de cabelos negros empunhando uma espada selvagem

E muda, sem dizer palavra, comandou a destruição final

E o céu se rompeu em uma chaga sangrenta e escura

A terra convulsa se abriu faminta engolindo a tudo e a todos

Mastigando-nos em suas ígneas presas

E um mar tingido de negro se despejou sobre tudo

Trazendo veneno até onde podia chegar e tocar

O vento cáustico e quente queimou meus pulmões

E cegou meus olhos impressionistas, varrendo toda luz existente

E a casa que tentei construir, sobre as ruínas de meu castelo de pó

Vieram também ao chão não restando mais abrigo onde fugir

E o anjo me olhou nos meus olhos cegos com seus olhos de trovão

Marejados como estavam e a ele ofereci um miosótis

E ouvi sua voz em meus ouvidos, aquela voz já familiar

“Não há mais nada, infelizmente assim foi. Adeus”

E a cada um deles plantei uma flor e pedi redenção aos céus

E talvez um dia ele me escute e traga de volta o anjo que se foi