Zona Fantasma

Além dos olhos do fundo da alma obscura

Atravessando escuros labirintos úmidos

Dentro do âmago do ser tornado espectro

Está um pântano abandonado

Um pântano de assombrações translúcidas

De figuras lívidas perambulantes

Com hálito de mortandade antiga

Ouça os gritos distantes de sofrimento

Ouça, o rasgar de carnes pútridas

E ossos que se quebram feito poeira desértica

Dos fantasmas do passado perdido

Arrastando pesadas correntes

De medo, pecado e culpa

Empestando o ar com seu bafejar mortiço

Não ande entre as águas escuras

Que esconde os cadáveres esquecidos

De velhos navios afundados

Olhando-nos com suas órbitas vazias

De escotilhas afiadas e as entranhas rasgadas

Rangendo seu lamento de madeira podre

No causticante ar estagnado

Não atravesse as brumas espessas

Negue as descarnadas mãos estendidas

Não caminhe entre os sargaços

Cuidado ao pisar a lama escura

Para não afundar teus pés em minha alma

Se afogar nessa água escura e profunda

De rochas e raízes retorcidas

Aceite minha mão ainda pulsante

Ao andar pelas negras terras d’além de meus olhos escuros