Por conta do canto
Da mesa
Era possível ouvir cada nota que tangia no peito,
Cada escala que lhe subia ao coração.
Como se a agudez do que vinha sentindo
Estourasse nos olhos em lágrimas
Que não eram vistas,
Mas que engoliam a fragilidade das mãos
E a aparente estabilidade das coisas.
A suavidade da música
Amenizava o estrago
Duma agulha triste que já lhe vinha furando os ossos.
Por conta do canto que lhe adentrou a alma na tal noite
Ela aproveitou a cura breve
Para deixar a manhã romper
Aquela escuridão instalada há tanto,
No seu riso fosco,
No seu mundo torto.
((Ao que me faz transcender pela docilidade da música e do riso fácil))