A Floresta mais Densa
Quero adentrar a floresta densa
Deitar-me no meio de sua parte mais espessa
Onde se encontram todos os galhos secos, ramos, cipós e plácidos arbustos
Não quero clareira, não quero luz, não quero espaço
Quero não mais ter envergadura
Que as folhas me cubram, Que os ramos e galhos se enrosquem tão apertado,
Que nem meu pensamento consiga ir longe.
Comprimido como vítima duma serpente...
Não quero mais a pressão da liberdade
Quero a tranqüilidade da pressão que conforta
Que anula, que apaga, que silencia, que faz dormir
Não mais indivíduo, não quero pisar os pequenos animais
Não quero pisar os galhos secos nem as folhas caídas
Não quero incomodar os ouvidos da floresta
Não quero invadir sua privacidade
Tal qual mulher insaciável, quero ser possuído
Tragado, engolido, misturado e suprimido
Não quero lápis, não quero pernas, não quero memória, não quero sorrisos, não quero choro, não quero arte]
Quero o sono mais profundo
Não sono, pois não quero sonho...
Vívido, tátil, a me lembrar que já fui indivíduo
Se o Nada com ninguém divide seu espaço
Quero a companhia da paisagem mais indiferente
Feita da matéria mais espalhada, mais serena
Quero ser o pó da folha seca triturada entre as palmas das mãos de um entediado]
Que a floresta me abrace, me aperte, me engula, me mastigue e regurgite espalhando as cinzas estéreis pelo espaço onde não entra luz
Que me sopre em direção àquele canto da floreta sem horizonte:
Todo espinhos, ramos, galhos, folhas, flores, gotas, troncos, verdes, marrons, amarelos...]
Onde não haja nada, mas haja tudo para não ver, não sentir e não ter o trabalho de ser]