Efeito colateral

Enquanto o veneno do escorpião branco ainda

correr no meu corpo eu vou sentar e esperar

o medo do tempo passar, vou olhar o mar e

fingir não ver que existem corpos na praia,

vou tentar não sentir que as lágrimas fogem

dos meus olhos e defloram o toque frio do chão,

vou deitar na cama e imaginar que estou dormindo,

vou olhar pra parede amarela do sol e dar adeus

a pessoa que eu fui, vou esperar que as flores

nasçam de novo embaixo dos meus pés. Enquanto as

nuvens ainda forem cor de terra, eu vou abrir a boca

e beber toda a chuva que eu puder, enquanto a música

for muda eu vou gritar até me chamarem de louco,

até me drogarem e me trancarem em um quarto escuro,

e quando o escuro for tudo que restar eu vou rir,

rir, por que você conseguiu me colocar no

lugar onde queria, mas não percebeu que me salvou

do labirinto que criou pra me enlouquecer, e eu

não enlouqueci, não ainda. E você agora perdeu seu

mais precioso brinquedo de cristal, olhe a sua volta

e veja a praia, os corpos, você é um deles por que eu

era sua vida!

Arthur Dantas
Enviado por Arthur Dantas em 02/10/2008
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