Barraco

A lenha crepita com raiva

E cospe pra cima

O negrume das panelas

Que faz da cozinha de tábuas

A alma esfumaçada

de um barraquinho sorrateiro

perdido no meio do mato

deitado sob à sombra do viçoso abacateiro.

Lá dentro as vozes desconfiadas

disputam com canários e pintassilgos

um espaço nos ouvidos da natureza desnuda

que chorando de alegria

faz pedras e galhos cantarem

com as águas que rolam riacho abaixo

e se desfaz em foz no alto do lago.

Espia-se pelas frestas trincadas

que o som da viola canta mais triste,

enquanto o cheiro de feijão

faz inebriar-nos a salivar em devaneios.

Nem o matagal que corre

a adentrar rio abaixo

faz sumir a candura da simplicidade

revestida com barro e cinza

embalando sonos satisfeitos.

Mais dia ou menos dia,

o ipê que sombreia janela,

Irá se encher de flores

e cobrirá o terreiro

de pétalas amarelas,

desenhando um tapete florido

em que pés descalços correrão afoitos,

amassando o mato

e jogando o barulho das risadas

pra dentro dos nossos ouvidos distantes.

Valter Pereira
Enviado por Valter Pereira em 01/10/2008
Código do texto: T1206598
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