Barraco
A lenha crepita com raiva
E cospe pra cima
O negrume das panelas
Que faz da cozinha de tábuas
A alma esfumaçada
de um barraquinho sorrateiro
perdido no meio do mato
deitado sob à sombra do viçoso abacateiro.
Lá dentro as vozes desconfiadas
disputam com canários e pintassilgos
um espaço nos ouvidos da natureza desnuda
que chorando de alegria
faz pedras e galhos cantarem
com as águas que rolam riacho abaixo
e se desfaz em foz no alto do lago.
Espia-se pelas frestas trincadas
que o som da viola canta mais triste,
enquanto o cheiro de feijão
faz inebriar-nos a salivar em devaneios.
Nem o matagal que corre
a adentrar rio abaixo
faz sumir a candura da simplicidade
revestida com barro e cinza
embalando sonos satisfeitos.
Mais dia ou menos dia,
o ipê que sombreia janela,
Irá se encher de flores
e cobrirá o terreiro
de pétalas amarelas,
desenhando um tapete florido
em que pés descalços correrão afoitos,
amassando o mato
e jogando o barulho das risadas
pra dentro dos nossos ouvidos distantes.